Com certeza, já aconteceu de, em um dia qualquer, olharmos pra uma pessoa nunca vista antes e sentirmos sensações, tanto boas como ruins.
Pergunto-me se isso tem a ver com a aparência, com possíveis “energias” ou qualquer outro tipo de interferente. No final, acabamos por usar a palavra “afinidade” como ponto final e pronto.
Mas o que, de fato, faz alguém chamar nossa atenção e fazer com que nos sintamos atraídos ou repelidos por ela?
Não! É muito mais do que atração afetiva! É uma ligação pessoal, assexuada e ilógica, na maioria das vezes.
Muitas pessoas são conhecidas por terem uma intuição aguçada, outras, no entanto, são conhecidas como sendo inocentes o bastante pra não perceber o óbvio.
Levemos em consideração a intuição. Gosto sempre de definir algumas palavras pra depois pensar sobre elas.
Pelo dicionário encontramos várias definições, inclusive em áreas científicas, mas nos apeguemos ao significado do contexto que será abordado nessa dissertação:
a.fi.ni.da.de
E a história começa aqui, mas não sozinha. Encontramos outro dilema: a ideia de que “os opostos se atraem”, ou, para muitos, “os iguais se atraem” e para os poetas “os dispostos se atraem”.
Na verdade, quando falamos de relações humanas não existe regra. Tudo surge, ressurge, acaba. Nenhuma regra deixa de morrer na cultura de um povo, mesmo que pra isso demore milênios. As revoluções acontecem, e agressivamente ou de forma pacífica, natural e imperceptível, tomam conta de uma nova geração.
E é muito interessante e, quem sabe, perturbador saber que nada permanece intacto. A inércia, muitas vezes, nos traz conforto; mudanças costumam ser tortuosas, mesmo que algumas vezes venham pro bem.
No final, o que é mais destrutivo? A igualdade de ideias ou as oposições destas? Pra muitos, ter alguém que seja seu oposto é uma forma de se equilibrar, já para outros, conviver com diferenças é estressante e um sério causador de problemas. Mais uma vez batemos de frente com a falta de padrões. Eles são muito úteis certas vezes. Por isso que muitos gostam de regras. É mais seguro. Religiões são os primeiros e maiores disseminadores do conforto causado pelo seguimento de regras. Porque, a partir do momento em que não seguimos as regras, nos tornamos os tais revolucionários capazes de fazer morrer padrões. E quem vai querer pessoas que destruam o que, aparentemente, mantem as coisas em controle? Nesse sentido, a afinidade perde todo seu sentido, quando somos obrigados a gostar do que nos ensinam a gostar, mesmo que não tenha nada a ver com nossa personalidade, com a nossa natureza.
Dessa forma, como não pensar que afinidade seja, simplesmente, o “deixar ir”? É tudo tão automático pra ter que ser regido por algo, muito menos, por nós.
Apesar de todas as faltas de respostas, de uma coisa eu sei: a intuição se utiliza da afinidade pra suprir algumas de nossas necessidades, sejam elas quais forem.
Se não fosse assim, pra quê vivermos em sociedade? Pra que o desejo de se estar perto de alguém e sentir nessa companhia os sentimentos mais gostosos e confortantes? Assim como somos naturalmente configurados a querer nos afastar do que pode nos fazer mal, com alguma atitude, ou, até mesmo, com a possibilidade de que certa má lembrança volte à tona.
Desde o mais forte dos homens precisa de proteção. Nem devemos querer exaltar nossa onipotência, pois não a temos. Pra alguns, proteção vem num colo de mãe, pra outros a proteção está num casamento, ou ainda, num emprego. Até mesmo objetos são protetores. Coletes à prova de balas protegem quanto à nossa integridade física, mas até livros podem ser exímios protetores e nos livrar de alguma realidade dolorosa demais pra ser vivida.
E tendo essas ideias em mente, me apego mais àqueles por quem minha afinidade brilha, retenho meus livros como meus melhores amigos e sigo em frente. Deixando meu próprio instinto me conduzir. Pode ser que ele falhe, mas é pra isso mesmo que estamos aqui: pra sermos humanos o bastante pra errar, voltarmos atrás e seguirmos o caminho certo, ou não. Afinal, são tantos os caminhos, são tantas as pessoas, é tudo tão infinito nessa coisa que alguém algum dia chamou de afinidade, que mais nada é do que a necessidade de se dar.
Nathalie Palácio