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domingo, 27 de março de 2011

Inveja


Você é um invejoso?
Duvido que não seja!
Existem coisas na vida que tentamos, ao máximo, esconder.
Num primeiro encontro, queremos parecer que somos as pessoas mais perfeitas já criadas.
Na faculdade, queremos ser o aluno das notas altas e o elogiado dos professores.
Em casa, queremos ser o filho que a mãe elogia pra vizinha e o vizinho que a vizinha elogia pra outros vizinhos.
Queremos ser perfeitos.
Ou seja, queremos o impossível!
Para a inveja é a mesma coisa.
Desde sempre, o conceito de inveja foi subordinado a um sentimento restrito à pessoas sem caráter. A velha história de que pra ser bom, só devo demonstrar coisas boas, e todos os podres devem ficar escondidos em alguma gaveta do guarda-roupas, de preferência na última, debaixo de um monte de roupas de cama.
E isso não acontece só com a inveja. Isso se repete quanto ao ciúmes, ao medo, à raiva e todos aqueles sentimentos que nossos pais nos ensinam a nunca manifestar, porque senão mostrará que somos más pessoas. Aprendemos desde cedo a escondermos quem somos, ao invés de aprendermos que somos assim, que é normal sentir raiva de algo que nos desagrade, mas que é perfeitamente possível controlar essa raiva pra que ela não cause danos a si próprio e aos outros.
Sentir inveja é mais natural do que ir ao banheiro! É inato! Não queira fugir dela. Ela sempre te alcança!
Muitos confundem, também, inveja com “puxar o tapete do outro”.
A inveja não é, necessariamente, má. Ela pode ser um incentivo se acompanhada de outros sentimentos, como o de coragem, o de esperança e o de compaixão. Aliás, compaixão é um dos sentimentos mais poderosos que possuímos. Uma vez, ao ler um livro, a autora dizia que se o leitor tivesse algum grande desafeto, que o pusesse em cima de um palco e o imaginasse como criança, um bebê! Assim que a imagem se forma, por mais difícil que seja pra alguns, a compaixão surge de uma hora pra outra. Dessa forma, percebemos que todos temos fraquezas e, no fundo, todos somos crianças à espera de cuidados e que merecemos toda a compaixão do mundo. Esse exercício mental auxilia nos processos de perdão. E, uma coisa que eu gosto muito de ressaltar é que, perdoar não é esquecer, é, simplesmente, deixar ir! Por isso, se espelhando no processo de perdão, a inveja pode vir e não devemos nos sentir sujos por sua presença. Vamos salvar a história. Vamos aliar à inveja todos aqueles bons sentimentos que TODO MUNDO possui e faremos da inveja não uma mancha de vergonha, mas uma fonte de inspiração pra nossas próprias conquistas.
Pedro sonhava com um certo cargo de um empresa do ramo imobiliário. Se dedicava, cumpria com suas responsabilidades, fazia hora-extra, enfim, era um funcionário exemplar. Porém, num dia qualquer, ao chegar na empresa, recebe a notícia que Laura, uma recém-contratada foi promovida ao cargo que tanto almejava. Por mais que Laura seja uma boa colega de trabalho, é mais do que normal que Pedro inveje seu avanço e se sinta mal. Até porque, muitas vezes nos sentimos injustiçados. Aquela velha história de que o que se esforça, nada tem, e o que não faz tanto quanto aquele que se esforça, sim! São as tais injustiças da vida. Algumas injustiças são recorríveis, já outras são, no máximo, administráveis pelo injustiçado.
Tudo bem, todo mundo sente inveja. Mas quero que ela me cegue e me faça ser alguém amargurado ou prefiro usá-la ao meu favor?
Pedro poderia se revoltar, trabalhar com menos empenho, mas se ele for esperto, vai saber que um dia sua hora chegará, simplesmente, porque ele tem potencial pra isso, mesmo que seu objetivo não tenha sido alcançado nas circunstâncias que ele esperava.
Agora podemos reconhecer a inveja sadia. Aquele impulso que nos faz avançar, fugir da estagnação, mesmo que pra isso, a princípio, nos deparemos com uma sensação de impotência e inferioridade.
Deixar velhos padrões é uma arte. Nem todos conseguirão. Somente aqueles que escolherem progredir se livrarão das amarras dos ensinamentos errados recebidos um dia na infância ou em qualquer outro momento da vida.
Por isso que a prática leva à perfeição, mas não levemos “perfeição” tão ao pé da letra. A real perfeição é a consciência de que se é imperfeito e saber viver harmoniosamente com isso, mas quer saber? Isso fica pra outro dia.

Nathalie Palácio