Muito já se defendeu sobre a vida em sociedade mas muito pouco se pensa sobre a necessidade de se estar sozinho. Algumas pessoas chegam a ter pavor da solidão, até porque estar sozinho requer uma força sobrenatural, preparo psicológico, mas doses homeopáticas de solidão podem curar desde desavenças do presente até feridas do passado, e que atire a primeira pedra quem não tem uma ferida guardada de um passado não tão bom assim!
Nascemos. Nascimentos trazem esperança, enfatizam o contraste entre a vida e a morte! Mas a vida sempre acaba ganhando nos nossos sentimentos, ela sempre foi mais forte!
Um bebê vai desenvolvendo seus sentidos, mas é, primordialmente, regido pelos seus instintos, pela fome, a sede, e, incrivelmente, pela necessidade de amor e carinho provindos de alguém que o proteja. Mesmo sem saber falar, ele já se conhece, sabe do que precisa, e clama por isso, seu choro é uma súplica, seu riso é a prova que tudo está indo bem, que a vida está seguindo seus verdadeiros rumos da forma mais salutar possível.
O ser humano vai crescendo, não só fisicamente, mas sua mente se aperfeiçoa e não é assustador quando dizem que usamos somente 10% da capacidade do nosso cérebro, isso tem um motivo; Particularmente, isso se chama ‘deficiência do auto-conhecimento’.
O mundo nos incentiva a saber um pouco de tudo, a sermos bem-sucedidos, sermos cultos, sabermos várias línguas e onde fica o incentivo à ‘auto-avaliação’?
Não somos educados para vivermos para nós, mas para servimos o mundo e esse mundo é cruel, sempre quer mais de nós, e nunca é o suficiente. Somos postos um do lado dos outros e nos dizem: ‘Seja melhor que ele!’ e, quando isso não acontece, esse mesmo mundo não nos acolhe, somente fica a lembrança do fracasso, da derrota em não ser o que esperam que você seja!
As qualidades pessoais se perdem, a humanização também! Hoje não somos pessoas, somos números, códigos, pouco se importam se nossa saúde está bem, se estamos felizes, satisfeitos com nosso trabalho ou com nossas relações familiares! Somente querem resultado, um resultado praticamente instantâneo! Somos máquinas, não temos o direito ao cansaço, ao sono, ao direito de defesa, somos produtos daquilo que não nos ensinaram e que é o que mais nos faz falta!
Assim como aquele bebê que se conhece, sabe o que quer e não faz cerimônias para ter aquilo que quer, somos privados, com o passar dos anos, a seguir essa nossa tendência de se satisfazer. Tudo é errado, tudo é pecado, a felicidade é condicionada ao sofrimento, à luta incansável, pois ‘só os que sofrem merecem o Reino dos Céus’, e, assim, nos tornamos pessoas presas a velhos conceitos repressores que tentam exterminar a natureza humana, pregando o medo, a dúvida e a submissão.
Mesmo quando velhos, nunca deixamos de ser bebê, ele está lá, dentro de nós, mas há muito está sufocado, praticamente morto. Vivemos nossas vidas sem termos a consciência de quem somos, o que queremos, o que nos faz feliz, o que nos satisfaz! Passamos anos a fio presos a desejos alheios, a deveres com o próximo e nenhum compromisso pessoal. Somos perseguidos, constantemente, por histórias mirabolantes que nos foram contadas na infância sobre o quanto é perigoso ser quem somos, que obedecer é o melhor caminho, que existe um inferno a nos esperar, que só os submissos são merecedores de méritos divinais, e no final? Onde estão os méritos que lhe foram prometidos por toda uma vida? Chega a frustração! O seu bebê chora querendo liberdade de personalidade, ele quer chorar, gritar, mostrar aquilo que ele quer e que não é nem um pouco supérfluo, é, visivelmente, vital.
Não temos o hábito de nos perguntarmos o que queremos. Sim, somos bebês, mas, hoje, não lidamos somente com instintos, mas, também, com raciocínios. Onde está o seu ‘eu’? Ele é feliz? Gosta de que tipo de música? Prefere acordar tarde ou cedo?
Por isso dizem que a lucidez chega próximo à morte. É quando a limitação da vida se faz presente que procuramos aquilo que não procuramos quando tínhamos tempo sobrando; Tudo é mais urgente, queremos o sentido de todos esses anos vividos, queremos encontrar a ‘Pedra Filosofal da nossa própria existência’! Nem sempre há tempo, por isso a solidão é a saída! Não defendo a solidão permanente, mas a solidão escolhida, aqueles momentos em que voltamos nossa atenção apenas para nós mesmos, em nossos pensamentos, nossas metas, nas vontades mais simples, naqueles sonhos que qualquer um acharia absurdo, nas melhorias do dia após dia porque o que importa é o que se vive a cada segundo, o que se aprende está em cada inspiração e em cada expiração, a conversa com seus netos, o pequeno instante em que você senta na frente da TV e se alegra ao ver uma série que não via desde sua infância...
A vida é isso: momentos que passam mas que se eternizam!
Todos os momentos vividos devem permanecer dentro de você, do seu corpo, da sua mente... e a lei da química também se aplica pois nada se perde, tudo se transforma! O medo pode ser transformado em superação, a alegria pode ser transformada em memórias dignas de sempre serem lembradas, o passado transforma-se num presente melhor, a solidão revela o presente do momento ‘hoje’, da importância de colocar-se em primeiro lugar e não se privar de vontades e pequenos pecados, pois tudo pode se transformar pela sua capacidade de saber lidar com você mesmo, de se dar a liberdade de escolher o melhor pro seu dia e, assim, ver o sorriso do bebê que não tem motivos pra chorar pois todas suas necessidades já foram sanadas.
Nathalie Palácio