RSS

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Síndrome da Solidão

Estar sozinho não é mais permanecer só em um ambiente, há muito tempo deixou de ser uma condição existencial, a solidão ganhou campos, ganhou corpo e mente. O corpo pode estar rodeado de pessoas mas a mente pode estar em transe, sozinha em seus pensamentos, em seus infinitos devaneios.
Muito já se defendeu sobre a vida em sociedade mas muito pouco se pensa sobre a necessidade de se estar sozinho. Algumas pessoas chegam a ter pavor da solidão, até porque estar sozinho requer uma força sobrenatural, preparo psicológico, mas doses homeopáticas de solidão podem curar desde desavenças do presente até feridas do passado, e que atire a primeira pedra quem não tem uma ferida guardada de um passado não tão bom assim!
Nascemos. Nascimentos trazem esperança, enfatizam o contraste entre a vida e a morte! Mas a vida sempre acaba ganhando nos nossos sentimentos, ela sempre foi mais forte!
Um bebê vai desenvolvendo seus sentidos, mas é, primordialmente, regido pelos seus instintos, pela fome, a sede, e, incrivelmente, pela necessidade de amor e carinho provindos de alguém que o proteja. Mesmo sem saber falar, ele já se conhece, sabe do que precisa, e clama por isso, seu choro é uma súplica, seu riso é a prova que tudo está indo bem, que a vida está seguindo seus verdadeiros rumos da forma mais salutar possível.
O ser humano vai crescendo, não só fisicamente, mas sua mente se aperfeiçoa e não é assustador quando dizem que usamos somente 10% da capacidade do nosso cérebro, isso tem um motivo; Particularmente, isso se chama ‘deficiência do auto-conhecimento’.
O mundo nos incentiva a saber um pouco de tudo, a sermos bem-sucedidos, sermos cultos, sabermos várias línguas e onde fica o incentivo à ‘auto-avaliação’?
Não somos educados para vivermos para nós, mas para servimos o mundo e esse mundo é cruel, sempre quer mais de nós, e nunca é o suficiente. Somos postos um do lado dos outros e nos dizem: ‘Seja melhor que ele!’ e, quando isso não acontece, esse mesmo mundo não nos acolhe, somente fica a lembrança do fracasso, da derrota em não ser o que esperam que você seja!
As qualidades pessoais se perdem, a humanização também! Hoje não somos pessoas, somos números, códigos, pouco se importam se nossa saúde está bem, se estamos felizes, satisfeitos com nosso trabalho ou com nossas relações familiares! Somente querem resultado, um resultado praticamente instantâneo! Somos máquinas, não temos o direito ao cansaço, ao sono, ao direito de defesa, somos produtos daquilo que não nos ensinaram e que é o que mais nos faz falta!
Assim como aquele bebê que se conhece, sabe o que quer e não faz cerimônias para ter aquilo que quer, somos privados, com o passar dos anos, a seguir essa nossa tendência de se satisfazer. Tudo é errado, tudo é pecado, a felicidade é condicionada ao sofrimento, à luta incansável, pois ‘só os que sofrem merecem o Reino dos Céus’, e, assim, nos tornamos pessoas presas a velhos conceitos repressores que tentam exterminar a natureza humana, pregando o medo, a dúvida e a submissão.
Mesmo quando velhos, nunca deixamos de ser bebê, ele está lá, dentro de nós, mas há muito está sufocado, praticamente morto. Vivemos nossas vidas sem termos a consciência de quem somos, o que queremos, o que nos faz feliz, o que nos satisfaz! Passamos anos a fio presos a desejos alheios, a deveres com o próximo e nenhum compromisso pessoal. Somos perseguidos, constantemente, por histórias mirabolantes que nos foram contadas na infância sobre o quanto é perigoso ser quem somos, que obedecer é o melhor caminho, que existe um inferno a nos esperar, que só os submissos são merecedores de méritos divinais, e no final? Onde estão os méritos que lhe foram prometidos por toda uma vida? Chega a frustração! O seu bebê chora querendo liberdade de personalidade, ele quer chorar, gritar, mostrar aquilo que ele quer e que não é nem um pouco supérfluo, é, visivelmente, vital.
Não temos o hábito de nos perguntarmos o que queremos. Sim, somos bebês, mas, hoje, não lidamos somente com instintos, mas, também, com raciocínios. Onde está o seu ‘eu’? Ele é feliz? Gosta de que tipo de música? Prefere acordar tarde ou cedo?
Por isso dizem que a lucidez chega próximo à morte. É quando a limitação da vida se faz presente que procuramos aquilo que não procuramos quando tínhamos tempo sobrando; Tudo é mais urgente, queremos o sentido de todos esses anos vividos, queremos encontrar a ‘Pedra Filosofal da nossa própria existência’! Nem sempre há tempo, por isso a solidão é a saída! Não defendo a solidão permanente, mas a solidão escolhida, aqueles momentos em que voltamos nossa atenção apenas para nós mesmos, em nossos pensamentos, nossas metas, nas vontades mais simples, naqueles sonhos que qualquer um acharia absurdo, nas melhorias do dia após dia porque o que importa é o que se vive a cada segundo, o que se aprende está em cada inspiração e em cada expiração, a conversa com seus netos, o pequeno instante em que você senta na frente da TV e se alegra ao ver uma série que não via desde sua infância...
A vida é isso: momentos que passam mas que se eternizam!
Todos os momentos vividos devem permanecer dentro de você, do seu corpo, da sua mente... e a lei da química também se aplica pois nada se perde, tudo se transforma! O medo pode ser transformado em superação, a alegria pode ser transformada em memórias dignas de sempre serem lembradas, o passado transforma-se num presente melhor, a solidão revela o presente do momento ‘hoje’, da importância de colocar-se em primeiro lugar e não se privar de vontades e pequenos pecados, pois tudo pode se transformar pela sua capacidade de saber lidar com você mesmo, de se dar a liberdade de escolher o melhor pro seu dia e, assim, ver o sorriso do bebê que não tem motivos pra chorar pois todas suas necessidades já foram sanadas.

Nathalie Palácio

14 comentários:

Éter Na Mente disse...

Texto de primeira qualidade.

Muito bem escrito, claro em suas posições e principalmente, com verdades q as vezes temos medo de encarar.

Parabéns. Vou virar leitos assíduo,

<-=|§¡® G룣y|=-> disse...

Meu amor, ficou ótimo... adorei msm... eu te falei q vc era capaz de escrever coias otimas... li, reli e adorei... sempre vo ta aki pra ler,dar minha opiniao e, eh claro, a xicara de chocolate... ^^

Adorei msm... em breve esse blog vai estar mto movimentado e cheio de comentarios elogiando suas obras..

Parabens... a cada dia que passa me orgulho mais de voce... ^^

Te amo mt!

CAMILA de Araujo disse...

Muito interessante e super bem escrito.

Parabens.

www.casadobesouro.blogspot.com

Anônimo disse...

Vi um post seu ao visitar a comunidade no orkut e resolvi então ler seu blog, coincidência ou não, as últimas coisas que tenho lido descrevem muito da minha vbida nos últimos anos, dias, meses...mas este post, particularmente, veio de encontro comigo. Tenho sentido segurança na solidão, o que não me tira o desejo da convivência e do diálogo. E acredito piamente na importância do autoconhecimento, dizia sabiamente Sócrates:"Conhece-te a ti mesmo", e a solidão vai gradativamente nos proporcionando isto, desde que não se tenha medo dela. De todo o seu texto pude extrair fragmentos dos meus pensamentos ultimamente, encontrei semelhança com coisas que tenho escrito em meus blogs, aleatoriamente. Será que é obra do acaso encontrar pessoas que escrevem exatamente o que sinto?rsrs!
Você escreve bem, suas palavras e expressões são muito bem colocadas, é possível sentir a emoção com a qual você escreve e ao mesmo tempo a presença de racionalidade e lucidez. Parabéns!

Palavrador disse...

(Agora sim, rs, posso deixar o meu comentário.)

"Não somos educados para vivermos para nós, mas para servimos o mundo e esse mundo é cruel, sempre quer mais de nós, e nunca é o suficiente. Somos postos um do lado dos outros e nos dizem: ‘Seja melhor que ele!’ e, quando isso não acontece, esse mesmo mundo não nos acolhe, somente fica a lembrança do fracasso, da derrota em não ser o que esperam que você seja!"

Este trecho me incomodou muito. Em minha opinião, não existe uma criação para servir o mundo. Existe uma ideologia, um discurso hegemônico de grande penetração que afirma a necessidade de se trabalhar para se inserir em sociedade. O status social é fundado na capacidade de consumir, e o homem, ao invés de ser o sujeito na relação com a mercadoria, passa a ser o objeto, pois é ele que determina o homem.

A competição no mundo do trabalho (visto que a tecnologia diminui os postos de trabalho e aumenta a necessidade da excelência), acaba sendo estruturante em toda a sociedade, visto que é somente através do trabalho que há a inserção social. Logo, a família, a própria subjetividade, passam a ser regidos por esses parâmetros. Tudo é movido pelo consumo, visto que este gera a produção que gera o trabalho que gera o salário que gera o lucro do capitalita através da exploração da mais-valia. Difundir, por exemplo, certos padrões de beleza, como os corpos musculosos e feições européias, leva ao consumo e através da mercadoria se constrói uma subjetividade superficial.

Assim, a capacidade de consumir, a aparência exterior que é fruto do próprio consumo, acabam definindo de certa forma as relações sociais, fundadas na competição e na exterioridade. O homem é um animal social, e no mundo atual é definida a partir dos parâmetros acima expostos. Logo, qualquer solidariedade perde força ante a necessidade de sobrevivência no competitivo mundo social criado.

Essa não é a única leitura possível, mas a que me parece mais relevante, baseada, mal e porcamente, nas idéias de Marx sobre o feitiche da mercadoria. Não obstante, e aí entra a minha opinião, acho que certas leituras diminuem demais a capacidade do indivíduo de reagir aos condicionamentos do mundo, da tradição, da moral. Por outro lado, a questionamento inserido na passagem "Não temos o hábito de nos perguntarmos o que queremos. Sim, somos bebês, mas, hoje, não lidamos somente com instintos, mas, também, com raciocínios. Onde está o seu ‘eu’? Ele é feliz? Gosta de que tipo de música? Prefere acordar tarde ou cedo?" é um pouco, digamos, perfunctório. Não, não sabemos o que queremos, e nunca saberemos, porque a realidade é complexa demais para saber o que quer. Melhor do que é, a mente humana é complicada, e fazer uma escolha às vezes é uma questão de fé, pois imagine as outras escolhas que se preteriu? Vários caminhos seriam possíveis, não?! Qual é racionalidade em gastar um terço da vida trabalhando? Por que as pessoas guerreiam por um ente abstrato chamado nação, ou religião? Por que se inventam máquinas que deixam pessoas desempregadas? Não é somente o homem que não sabe o que quer, é a humanidade inteira. E quando crescemos, somos educados a sermos responsáveis, a pensar no futuro. Qual é a lógica de pensar no futuro e não aproveitar o presente? Tal tipo de pensamento, apesar de poder aparentar uma certa irracionalidade, demorou séculos para ser elaborada, primeiro através da religião, do ascetismo como moral, chegar-se a idéia secular de progresso, que moveu o rápido desenvolvimento técnico e tecnológico que chegamos hoje.

Só usamos 10% do cérebro. Esse é um mero dado biológico. O que precisamos é pensar numa moral social que nos leve à um melhor convívio, que faça desse mundo menos injusto e irracional, onde números dominam sobre as pessoas. Sobre a solidão, concordo em partes. É realmente difícil ficar sozinho para pensar na própria vida, mas não, ela não resolverá todos os problemas. Em vez de solidão, defenderia serenidade, para tentar compreender o mundo e as pessoas, e aceitar o movimento da vida, e finitude e a eterna incompletude de tudo.

Juliano Pereira disse...

Show!!!

uma maravilhosa dinamica existencial!!

:D

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

meirmão, onde você tava? :OOO

adorei muito o que você escreveu, e você realmente conseguiu colocar em palavras o que é a rotina de nós humanos, e isso é muito difícil, porq sabemos apenas o que nós passamos...
Parece texto de psicologa! ;D

BFC disse...

Belo texto. Por favor nos presenteie com mais pensamentos inteligentes como esse.
Pois é, depois de ler e visitar seu blog fico até com vergonha de postar textos em meu blog.
Ps:Troquei o video da oração de Rick Warren na posse de Obama, agora ta legendado.

Anônimo disse...

Nááááá!!!
Ei, vc nem me avisou q estava de blog novo!
Poxa, eu q adoro ler as suas coisas!
Já tô mostrando pra todo mundo como a minha amiga é inteligente, eloqüente e maravilhosa...e sabe descrever coisas que eu penso mas não me atrevo a escrever...
Qdo tiver um tempo, passa no meu blog...ainda é o mesmo e eu ainda escrevo nele.
Beijinhos,
TE AMO MIL VEZES (se lembra dessa?)
Joycinha

Anônimo disse...

Oie, td bem?
Sou o Paulo, namorado da Joyce. Ela comenta mto sobre os teus textos, e agora q tive a oportunidade para ler um deles eu entendi o pq dos elogios q ela faz. Gostei mto do tema e da forma de escrita. Voltarei mais vezes neste blog para conferir novos trabalhos.
Abraço.

Anônimo disse...

Tem um presente prá vc no meu blog!^^

Danielle Abadie disse...

Gostei da forma como escreves. Se distancia um pouco para não se expressar em primeira pessoa, mas ainda sim se enxerga facilmente aquilo que pensas no texto. Se defende muito bem com as palavras.

=*

Vlad do Orkut disse...

Parabéns, amiga, gostei do que li ...